sexta-feira, 24 de julho de 2015

DESABAFO DE UMA PROFESSORA SEM SUPERPODERES

Quando eu escolhi Ciências Biológicas eu tinha em mente um desejo de criança, ser bióloga como aquelas do Globo Repórter. Eu simplesmente não fazia ideia do que me esperava na graduação e acreditava que eu precisava fazer a “escolha certa” de primeira. Naquela época ser estudante de escola pública e não estudar nas escolas renomadas na cidade pesava tanto, que soava como condenação: Você nunca chegará à universidade! Abriu loja nova no comercio, melhor deixar seu currículo e aproveitar as poucas chances enquanto é jovem!

Pouca gente acreditava, alguns parentes mais próximos, alguns poucos e bons professores, e a minha mãe. Tive a felicidade de passar no meu segundo vestibular e bom... A universidade não era o mundo cor de rosa que eu esperava. Depois de inúmeros atropelos, depois de ter perdido o rumo e as forças, depois de ver os meus planos e os da minha mãe se desfazerem com o seu assassinato... Depois de receber muita ajuda de familiares, companheiros de turma e maravilhosos professores eu consegui concluir. Todas as oportunidades que tive durante esse período me conduziam a licenciatura e me afastavam da bióloga do globo repórter.

A convite de um saudoso amigo (Emerson David) fui trabalhar numa escola estadual situada a 27Km da cidade onde moro. Trabalhar em Montadas-PB me ensinou a diferença entre verbos, entre 2012 e 2015 eu deixei de ESTAR professora para SER professora. Digo isso sem me isentar de todos os defeitos que tenho.

A academia me ensinou muitas coisas, um monte termos técnicos que pouco uso, me ensinou a pesquisar algo, a usar uma ABNT chatíssima, mas faltou o primordial, ela não me deu SUPERPODERES! Nesses 3 anos 3 meses e 24 dias “envelheci 10 anos ou mais”♪♫ como diria o Huberto Guessinger. Perdi alunos para o mundo do crime, soube de outro brutalmente assassinado, ouvi relatos de mulheres adolescentes e adultas que sofreram abuso, ouço relatos de relacionamentos abusivos, de mulheres ameaçadas, de seres humanos subjugados de diversas formas e tudo isso me angustia, hoje me arrancou muitas lágrimas; e o pior é saber que coisas desse tipo continuarão acontecendo! Em dias como hoje eu me sinto tão pequena, tão impotente e revoltada que não sei o que fazer!

Se você teve paciência de ler esse texto até aqui, pode pensar que adotei apenas o discurso da derrota e que não acontecem coisas boas por aqui, mas esta não é a única verdade. Ainda que de forma tímida (sim, porque eu sonho com resultados grandiosos e imediatos) tem muita coisa boa acontecendo. Tem gente se profissionalizando; existem meninos e meninas cantando, tocando e dançando a vida em sentido literal ou figurado; há mulheres abandonando relacionamentos abusivos; gente que insiste em ser honesta, que cultiva a partilha mesmo tendo pouco, gente boa remando contra a maré!

Queridas alunas e alunos, nesse texto que começou no dia 24/07/2015 e que termina à 1h e 37 min do dia 25/07 eu gostaria de agradecer a vocês. Serei eternamente grata por todo aprendizado que vocês me proporcionaram! Sei que nem sempre sou a profissional que posso e que gostaria, sei que às vezes extrapolo nas broncas e peço desculpas por isso. Saibam que apesar da angústia de não poder ajuda-los como gostaria eu me sinto muito honrada quando vocês chegam até mim e expõem suas aflições.

Eu só queria dizer que acredito em vocês, que eu reconheço as inúmeras dificuldades que vocês enfrentam, dizer que em alguns momentos elas pesarão, mas que vocês são capazes de superá-las. Eu só queria dizer que me orgulho de vocês que insistem em nadar contra a maré!

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